A edição da revista Veja nº 2238 traz a seguinte matéria "A pedagogia do Garfield", de Jerônimo Teixeira (mestre em Teoria Literária). "A literatura está virtualmente ausente do ENEM. Para os técnicos do MEC, o gato dos quadrinhos é mais relevante culturalmente do que Graciliano Ramos ou Castro Alves."
A matéria versa sobre um estudo realizado por grupo da UFRGS com a intenção de avaliar o peso da Literatura nas provas do ENEM, desde sua criação. Segundo o estudo, o ROMANCE seria o 5ª gênero literário em número de ocorrência nas provas, atrás de Poesia, Histórias em Quadrinhos, Crítica e Crônica, nessa ordem. O texto, no entanto, foca na presença dos quadrinhos para depreciar o ENEM:
"A começar pela valorização desmesurada das histórias em quadrinhos."
Durante todo o texto ocorre a sistemática desvalorização dos quadrinhos enquanto gênero literário, seja por comparação (vide o excerto acima) ou para ilustrar críticas ao formato da prova. Vamos ajudá-lo a elaborar suas ideias com um senso crítico mais apurado do que a revista que o emprega permite?
LISTA DE LIVROS OBRIGATÓRIOS: de fato, o Exame Nacional do Ensino Médio não exige a leitura prévia de uma lista de livros, como os vestibulares tradicionais fazem. O princípio básico do exame é realizar uma avaliação reflexiva das competências e habilidades que o aluno domina. Nunca acreditei, ou aceitei, a "obrigação da leitura" na escola, tanto como educando, quanto como educador por relacionar a leitura a algo prazeroso, porém quem sou eu pra discutir com um mestre? Deixo a cargo de Gonçalo Tavares em sua entrevista para a Carta na Escola: Leitura de puro prazer.
Jim Davis - Garfield
Imagem retirada de: http://inatitude.wordpress.com/tag/garfield/
CONTEÚDOS AVALIADOS: a Matriz de Referência para o ENEM aponta os eixos cognitivos a serem avaliados, sem em nenhum momento tratar do acúmulo de conteúdos. O tempo da educação bancária já se esgotou e pensar que isso significa que "Não precisa ler!" é menosprezar a aprendizagem que a leitura de um "clássico" pode nos trazer.
I. Dominar linguagens (DL):
II. Compreender fenômenos (CF):
III. Enfrentar situações-problema (SP):
IV. Construir argumentação (CA):
V. Elaborar propostas (EP):Quino - Mafalda
LITERATURA COMO ILUSTRAÇÃO: Um dos alvos da crítica de Jerônimo é que apenas metade das questões que tratam sobre gêneros literários é, de fato, sobre literatura, citando questões em que textos consagrados são utilizados como "pretexto" em abordagens de outras "disciplinas". O mundo não é compartimentado em disciplinas e a escola tenta abandonar essa visão conservadora com os "novos" Parâmetros Curriculares Nacionais, em voga (na teoria) há mais de uma década. Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) do Ensino Médio dizem o seguinte: “A Disciplina (Língua Portuguesa) na LDB nº 5.692/71 vinha dicotimizada em Língua e Literatura (com ênfase na literatura brasileira). A divisão repercutiu na organização curricular: a separação entre gramática, estudos literários e redação. Os livros didáticos, em geral, e mesmo os vestibulares, reproduziram o modelo de divisão. Muitas escolas mantêm professores especialistas para cada tema e há até mesmo aulas específicas como se leitura/literatura, estudos gramaticais e produção de texto não tivessem relação entre si.”
Quino - Mafalda
Concordo com a valorização da literatura nacional e concordo que os autores citados são essenciais para uma melhor compreensão histórica, (O que, a propósito, o colega de Jerônimo Teixeira na revista Veja é contra, já que julga ser depreciativo o fato de estudarmos Lima Barreto e Adolfo Caminha, enquanto outros países estudam Shakespeare e Dante, sendo esse um dos sinais da péssima qualidade de ensino de nossas escolas particulares: Gustavo Ioschpe - Você acha que as escolas particulares brasileiras são boas?). A única alternativa apresentada no texto é a retomada de uma perspectiva dicotômica dentro das linguagens e culturas.
Minha singela opinião é que o ENEM está longe de representar o sistema de avaliação perfeito, mas críticas ao mesmo devem ser amparadas em argumentos e propostas mais profundos, sem utilizar o subterfúgio da marginalização das Histórias em Quadrinhos em contraponto ao Romance.
Lanço um desafio a Jerônimo Teixeira: Analise os quadrinhos que "ilustram" essa publicação considerando seu caráter histórico, a perspectiva dos autores e o estilo gráfico. Será que ele consegue?
Leia a Carta Aberta a Veja de Paulo Ramos no blog dos quadrinhos. A crítica por outro viés.
Agradecimento ao amigo Bruno Mori por seu auxílio em relação ao link da reportagem da Veja.
"Ao Professor cabe o papel essencial de representar o elo entre o popular e o erudito."
Profª. Drª. Petronilha Beatriz Gonçalves
Parabéns mais uma vez pelo Blog, espero que uma reportagem conservadora como esta da Veja não afete em nada o conteúdo deste site e que a ideia de unir cultura e lazer a crianças e adolescentes tão alienadas no quesito leitura deste país esteja firme com vocês.
ResponderExcluirO Jerônimo é o jornalista que fez a matéria. O grupo de pesquisa do qual faço parte, coordenado pelo professor Luís Augusto Fischer (UFRGS), é o responsável pelos dados. Pena que você desprezou o trabalho que fizemos com a intenção única de atacar o Jerônimo. A meu ver, os dadossão eloquentes a respeito de muitos aspectos da prova do ENEM. Mas já falei bastante sobre isso no blog do Liber e do Paulo.
ResponderExcluirOlá Caloi. Trabalho com educação em escolas/cursinhos particulares há 18 anos e com relação as obras exigidas para vestibular, é incrível o que acontece após a prova. Eles simplesmente esquecem o conteúdo dos livros... Quando são lidos; pois geralmente os professores esmiúçam o conteúdo do livro durante todo o ano e os alunos não vêem necessidade de ler. Os vestibulando de Biomédica e Tecnológica que o digam.
ResponderExcluirRealmente, eu que sempre tive birra de ler os livros que a escola exigia, fazia questão de ler outras obras consagradas, apenas para não me sentir obrigado a ler algo. Podia ter lido coisas maravilhosas muito antes, mas decorar as aulas preparatórias é muito mais importante para o vestibular do que ler a obra em si.
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